Estava triste, e com sede por ter corrido por tantos quilômetros atrás dele, e teria continuado a correr, se não o tivesse perdido de vista. Cansado, me sentei na calçada coberta por uma fina camada de gelo enquanto ainda recuperava o fôlego. Estava numa ponte bem alta, que criava um caminho entre dois pontos, passando por cima de um largo rio, com uma forte correnteza pelo jeito.
Lá fiquei, com meus últimos vestígios de esperança, esperando ele voltar, enquanto eu mesmo me colocava para baixo. Aquilo já havia acontecido uma vez. Vivenciando aquele frio, apenas olhei para a outra calçada, enquanto alguns carros que passavam atrapalhavam minha visão. Vi um homem andando, parecia tão cabisbaixo quanto eu, se não mais, e, então, agarrou o parapeito da ponte com suas duas mãos e passou uma perna para o outro lado, logo a outra, até se encontrar pisando numa superfície muito menor que seus pés.
Eu estava confuso, não sabia o que ele iria fazer, e parece que eu não era o único com dúvidas ali. Aquela voz resgatou a esperança do homem por um breve segundo, e reconheci isso pois ele virou o rosto para trás, tentando enxergar o dono da voz.
— Cuidado! Mãe olha, ele vai pular!
Por um momento achei que aquela criança, que andava agasalhada de mãos dadas com a mãe, poderia tomar uma atitude e salvar o homem. Agora eu reconhecia que ele estava em perigo, e me coloquei de pé, atento.
— Não dê atenção a ele filho, é só isso que ele quer, se ele realmente tivesse problemas não estaria ali, estaria os resolvendo.
O subconsciente do homem pareceu dar razão a moça; ele resolveria o problema. Virou bruscamente o rosto para frente e soltou suas mãos. Corri em meio a avenida movimentada, carros brecaram com força e buzinaram enfurecidos, mas corri, e consegui morder o casaco do homem pelo vão das grades, e o puxar antes que ele terminasse de perder o equilíbrio.
— Ah! —Ele gritou assustado com o puxão, e pareceu perceber o peso do que quase fizera. — Deus, o que é que eu estou fazendo?
Ele pulou o parapeito de volta para a ponte, tremendo, mas não pelo frio, pelo medo. E então, virou-se para mim.
— Você... Acabou de salvar a minha vida. — Ele começou a chorar de emoção, se ajoelhou e afagou meus pelos com suas mãos cobertas pelas luvas. Repetia diversas vezes que não acreditava no que acabara de acontecer, e que me agradeceria para sempre pelo herói que eu fui. — Bom garoto! Que cachorro fenomenal! Vamos, você deve estar com frio!
Ele parecia outro homem com um sorriso no rosto, e eu parecia ter acabado de ganhar uma nova casa para passar a noite. Desta vez, o inverno não me traria dor.