A Maldição do Caçador

Autora: Bianka Cross, Lua Ray e Nubia Borborema
Gênero: Fantasia
Tipo: Conto
Classificação: 12 anos
Revisão: Rhaylla Gomes
Capa: Read Action



capa

— Nós não deveríamos estar aqui! — disse o rapaz tremendo.

— Você é tão medroso. Somos homens valentes, ou donzelas indefesas? — Retrucou o Homem que andava na frente com uma tocha na mão iluminando o caminho.

— Eu acho que esse ai é a donzela. — Comentou gargalhando um outro homem que estava um pouco mais atrás.

— Oras seu...

Ambos riram ao perceber que o rapaz ficou irritado com os comentários. Eles continuaram caminhando adentrando mais a floresta proibida. Seon, o mais forte e o mais apto em combates segue na frente, logo atrás tem Ralf, um jovem receoso, mas que sempre seguia Seon para onde quer que ele fosse. Por último, atrás de Ralf, estava Gregório, um homem de longos cabelos arrepiados, que é mais conhecido por suas piadas inconveniente.

Um baixo barulho de galho se quebrando pode ser ouvido por Seon, que para imediatamente observando ao redor.

— O que foi? O espírito da donzela está passando para você? — Ironizou Gregori ao perceber que ele parou.

— Vocês ouviram isso? — perguntou Seon apontando a tocha para ver se havia alguém.

— Acho melhor voltarmos. — falou Ralf já temendo o pior.

— Deixe de ser donzela, deve ser apenas o vento. — enfurecido respondeu Gregori.

Porém, novamente se ouve um barulho de galho sendo quebrado, só que mais forte. Logo Gregori, Seon e Half puderam ver vultos passar entre as árvores. Antes que pudessem correr, algo os segurou e os puxou floresta a dentro. A única coisa que podia-se ouvir, era gritos enquanto eram arrastados e, a medida que se distanciavam, ficou mais baixo até sumir completamente.

Um ano depois.

Asken, é um vilarejo ao noroeste da Sandalu, cidade central de todo reino norte. Telma era uma jovem destemida, que vivia com seu marido, caçador Lucien, no vilarejo. Ambos muito conhecido por sua simpatia e gentileza. Na verdade não havia quem não se conhecesse naquele local, como era pequeno, tornava-se mais fácil ser conhecido.

Lucien saiu de casa bem cedo como de costume. Era comum os caçadores sair antes do sol, para aproveitar melhor o seu dia de caça. Ele saiu junto de outros caçadores, iriam fazer uma ronda pela zona leste, próximo a floresta proibida. Ganhou esse título devido a acontecimentos misteriosos de desaparecimento que houvera por lá. Tinham pequenas cercas e placas por quase todos os lados, deixado lá para evitar que outros entrassem, embora parecesse que poucos respeitavam os avisos.

Após um longo dia de caça, Lucien e seus companheiros, estavam insatisfeito com o rebanho, havia meses que a caça não estava sendo o suficiente e temiam o pior. Lucien já estava guardando as coisas quando ouviu um barulho de cervo, próximo a fronteira da floresta proibida. Ele mirou seu arco e flecha, mas antes que pudesse atirar, o cervo correu adentrando a floresta.

— Eu já volto.

— Pra onde vai Lucien ? — Pergunta um homem barbudo de cabelos grandes escuros, conhecido como Elan.

— Vi um cervo, ele está bem na entrada da floresta. — Respondeu Lucien.

— A floresta proibida? Melhor não.

— Um cervo dentro da floresta? — Um outro homem de cabelo curto e mais claro aparece logo atrás. — Vocês estão malucos? lá é perigoso.

— Fiquem aqui, eu vou!

— Não faça isso Lucien. — Adverti Elan.

— Ele está bem aqui na ponta. A caça de hoje não foi boa, precisamos daquele cervo. — ele justificou.

— Então irei com você. — Disse Elan já preparando seu equipamento e seguindo na direção da floresta.

— Vocês são loucos, ninguém tira meus pés daqui. — Afirmou Lóris.

— Certo. A gente já volta.

Lucien, após dizer isso, saiu atrás de Elan deixando Lóris para trás.

O sol já estava se pondo e pé ante pé Lucien e Elan perseguiam o cervo. Agora mais próximos, podiam distinguir que era uma corça, uma fêmea. Elan, que era bom em arremessos de machadinhas, girou uma delas em uma das mãos e a jogou. A corça então os encarou, e a arma que antes voava em sua direção retornava ao dono, abrindo sua cabeça. Lucien recuou, assustado, enquanto a corça tomava a forma de um ser encapuzado.

Sacando uma pequena faca de caça, ele recua e pergunta:

— O que diabos é você?

Uma risada macabra ecoa e arrepia o rapaz que recua ainda mais. Mãos delicadas retira o capuz e revelam uma jovem, aparentemente tinha 15 anos. Ela sorria docemente.

— Não deveria estar aqui, caçador. Está muito longe de casa, não acha?

Mesmo estando a mais de um metro de distância, Lucien se sentia ameaçado por aquela presença, e se afastava cada vez mais.

— Eu vim caçar cervos, e me deparo com uma feiticeira. Acho que pode me compreender, senhorita.

— Não é território para caçadores, essa floresta. E não é permitido que impuros como vocês pisem neste solo.

— Pois vocês, bruxas, deveriam avisar de suas posses, levantar barreiras, se enfiarem em suas tocas como as ratazanas que são, ao invés de enganar pessoas honestas.

Foi quando Lucien foi arremessado aos pés da moça por uma força invisível e descomunal. Ele tentava se levantar, mas não conseguia.

— Como ousa usar esse tom, verme?

— É assim que falo com bruxas que enganam pessoas famintas e em busca de alimento.

A moça pegou um galho seco e espinhoso, rasgou as costas da camisa de Lucien e começou a cortar suas costas em símbolos antigos de rituais desconhecidos. Lucien se debatia e se contorcia, mas algo o segurava no chão. Ele urrava de dor.

— Agora vais ver, caçador, como é agir por seus instintos mais selvagens e famintos. Vais sofrer em uma pele que não é sua, mas que lhe caberá para o resto dos teus dias. Não reconhecerá seu povo após o próximo pôr-do-sol, e se tornará meu escravo vigilante por essas terras. Te purifico para percorrer esta floresta, mas te amaldiçoo com a servidão e a fome pela carne dos seus.

Assim que ela parou de falar, as feridas de Lucien começaram a arder e começara a se transformar. Suas mãos adquiriram pelos e seu corpo se encheu deles. Sua mandíbula se esticou e suas presas surgiram, imensas, em uma bocarra que babava e rosnava. Em pouco tempo, Lucien tomou uma forma lupina imensa. Então a bruxa o tocou, acariciando o pelo recém formado, manchado de sangue.

— Agora não está mais longe de casa, caçador. Bem-vindo ao lar…

Enquanto isso, fora da floresta, uma jovem mulher se preocupava com seu noivo, a jovem conhecida como Telma procurava Lucien em todo lugar. Depois de muito procurar, desconsolada voltou para casa, e neste momento pode-se ouvir sonoras pancadas contra a madeira. A jovem Telma foi em direção a porta de maneira apressada, esperando que fosse seu noivo, ao abrir a porta, se depara com Lóris, um dos homens que faz parte do grupo de caça de Lucien, de maneira apressada ele explica que Lucien e Elan entraram na floresta e provavelmente não iriam sair. Apavorada, Telma passa por Lóris sem ao menos esperar ele terminar de falar.

Já era tarde da noite quando Telma entrou na floresta e, conforme se aprofundava, pode-se ouvir barulhos de gritos, foi nesse momento que Telma pode ver Lucien ajoelhado com uma bruxa sobre ele quando ela se afastou Lucien começou a mudar, quando a mudança chegou ao fim no lugar onde Lucien estava agora havia um lobo completamente negro, apavorada Telma correu de volta para a aldeia, ao chegar lá ela se lembrou da velha que morava perto da aldeia.

Havia rumores que essa anciã que morava em uma parte da aldeia, era ou tinha contato com bruxas. Por isso ninguém chegava perto de sua casa. As pessoas tinham medo. Lembrava Telma dos rumores, ela então correu para a casa dessa anciã, na esperança que ela pudesse ajudar.

Ao chegar lá, imediatamente Telma sentiu calafrios. A casa parecia abandonada devido sua aparência velha e mau cuidada. Telma se aproximou meio receosa, bateu na porta com força implorando em sua mente que a tal senhora estivesse lá e que pudesse ajudá-la. Telma sentia uma angústia em seu peito, logo instantaneamente algumas lágrimas brotam de seus olhos ao lembrar de seu amado. Sua mente deu voltas, confusa e perdida. Ela não sabia o que pensar, até que uma voz rouca surge de dentro da casa, atirando daqueles tristes pensamentos.

— Quem é? Vá embora! — Diz a rouca voz.

— Por favor, abra! — Batia Telma com uma voz aflita.

— Quem é e o que você quer? — Persistiu sem abrir a porta.

Telma cai em prantos, já não conseguia mais segurar as lágrimas. Ela se encosta na porta deslizando pela a mesma até chegar o chão.

A senhora atrás da porta escuta o choro. Ela hesita por um breve momento antes de abrir vagarosamente a porta e encontra Telma em choros caída no chão. A senhora, uma velha de que caminha com dificuldade, de corpo robusto, olha ao redor antes de voltar a olhar Telma que ainda chorava.

— Entre! — Diz ela com um olhar sério e uma voz mesmo que rouca, suave.

Telma se levanta e entra, logo após a senhora fecha a porta atrás dela. Antes que Telma pudesse falar qualquer coisa era interrompida.

— Não precisa dizer, eu sei porque está aqui. — Dizia ela enquanto caminhava para a cozinha.

— Sabe? — Telma retrucou tentando conter o choro.

— Sim, minha Jovem! — Ela pega uma xícara e coloca um pouco de chá levando-a até Telma, que segura olhando confusa para ela. — Seu noivo foi pego pelas bruxas.

— Como você sabe? — Se espanta Telma.

— Eu sonhei com isso. — Diz ela caminhando até a pequena sala que só havia alguns simples móveis e uma mesa com cadeira.

— Você sonhou? Quando? Porque não falou nada? Você pode me ajudar?

Telma fica bastante aflita, mesmo sem entender, questionava que se ela sabia que iria acontecer podia ter evitado, ou pelo menos poderia ajudar a reverter a situação. A senhora calmamente abriu uma das pequenas instantes que tinha em sua sala.

— Você pergunta demais. Saber de algo, não significa que possa mudar o ocorrido. A linha da vida adora pregar peças. — Dizia ela enquanto procurava algo dentro da estante.

— O que posso fazer então? — Telma já estava ficando impaciente.

Ela tira da estante um pano branco velho bem dobrado, leva o mesmo até a mesa onde estava Telma. Desdobra o pano e havia dentro um outro tecido, um tipo de capa feito por pequenas correntes prateadas.

— Aqui está. Isso vai quebra o encanto de seu noivo. Mas você só tem até aurora de hoje, se não o encanto será permanente e você perderá ele de vez.

Telma olha para o tecido e volta seu olhar para ela.

— Como pode saber disso tudo? — Não aguentou sua curiosidade.

Ela suspira antes de responder.

— A muito e muito tempo atrás, eu fui uma delas. Mas me apaixonei por um mortal e como punição o mesmo aconteceu com ele. Só que depois que se cansaram de brincar com ele, o mataram. Eu não suportei e fugi. Abandonei tudo e me isolei. Tentei ocultar minha presença delas, embora tenha conseguido, ainda posso senti-las. Ainda tenho pesadelos, ainda sinto dor... — Ela faz uma pausa olhando para aquela capa antes de prosseguir. — Essa capa é feita de prata encantada, cubra seu marido com ela e isso irá quebrar o feitiço. Ela também protegerá de alguma magia, mesmo que venha, direto das bruxas. Agora vá, você não tem tempo a perder.

Telma ouvia com atenção. Agradecida pegou a capa e saiu de lá imediatamente.

Correndo de volta para a floresta, ela tentava encontrar uma solução, imaginando como iria cobrir um lobo selvagem com um manto.

Quando chegou na floresta, ela lembrou-se que a senhora da aldeia disse que havia um lago onde os homens capturados e transformados pelas bruxas sempre iam, conforme chegava perto, podia-se ouvir uivos agoniados de um lobo. Telma, com esperança de que fosse seu Lucien, foi naquela direção, quanto mais perto chegava mais amedrontada se via, vendo uma moita resolveu se esconder atrás para se certificar que era Lucien o lobo que uivava de maneira tão triste.

Ao olhar através da moita, percebeu que o lobo que estava chorando era sim Lucien e que agonizava daquela forma por ter a pata machucada, se compadecendo da criatura, que agora era Lucien, Telma saiu de seu esconderijo e foi se aproximando lentamente, enquanto murmurava uma canção que acalmava a ela e a Lucien. Quando chegou perto, Telma pode ver que o machucado na pata do lobo havia sido feita por uma armadilha de caçador, se era por ironia do destino, ou pelo humor retorcido da bruxa, a jovem não poderia dizer, mas aquele machucado foi o que permitiu a sua aproximação e quando Telma abriu a capa e jogou sobre o lobo pode se ouvir barulhos de estalos e chiados, a fumaça subia pois a prata queimava a pele do lobo, depois de um tempo segurando a capa sobre o lobo Telma ouviu barulhos de ossos quebrando e se deslocando, sentir os ossos se moverem sobre a pele de Lucien foi agonizante para a jovem, mas mesmo assim ela se manteve segurando a capa. E quando tudo se acalmou e Telma viu o corpo de um homem ao invés de um lobo, retirou a capa de cima do rapaz e o ajudou a entrar no lago para refrescar a sua pele.

Depois de um tempo, Lucien pediu ajuda para sair da água e assim com Lucien mancando pela lesão, Telma e Lucien retornaram a aldeia.

Depois da lesão de Lucien se curar, Telma e o caçador se casaram. Um dia depois de seu casamento, Telma se lembrou da manta de prata e muito agradecida foi devolvê-la, chegando na casa da anciã, tudo o que Telma pode encontrar foi uma nota dizendo que, a partir daquele dia, a anciã foi aceita novamente entre as bruxas e que apesar de ainda ser perigoso entrar na floresta durante a noite as bruxas, concordaram em não mais transformar homens em feras e que o manto deveria ficar de recordação a Telma e Lucien, que para um ser sobreviver outro sempre tem que morrer.

FIM!